Paulo Ormindo de Azevedo
SSA: A Tarde, 03/08/14
SSA: A Tarde, 03/08/14
Quando ainda não existia a Embasa, toda vez que o Serviço de Água e
Esgoto fazia uma ligação recorria a um velho funcionário para saber por
onde passava o cano. Mais tarde decidiu-se “racionalizar” o sistema
colocando os dutos sob os passeios penalizando os pedestres. Nessa época
a rede de esgoto se limitava a área central implantada por Theodoro
Sampaio. Quando a Embasa começou a colocar esgoto quebrou toda a cidade.
Pouco depois, a Telebahia fez o mesmo para instalação da rede de
telefonia. Com a chegada dos celulares foi necessário ligar as
subestações e torres com cabos de fibra óptica e mais uma vez a cidade
teve que ser esburacada. Recentemente foi a vez da televisão a cabo.
Omiti a rede de águas pluviais porque esta foi abandonada, com a água
correndo pelo leito das ruas alagando as avenidas de vale e acabando com
o asfalto.
Tem razão o prefeito quando reclama da Embasa, no que
foi secundado por Lídice da Mata recordando seu tempo de alcaide. O
prefeito Rudolph Giuliani não permitiu, no final dos anos 90, que se
quebrassem as calçadas de Nova York para a entrada de rede de dados. Em
resposta, as empresas desenvolveram um engenhoso sistema de fibra-óptica
que corre dentro de galerias e tubos de esgoto chegando até cada
edifício. Lamento dizer, mas as nossas ruas vão continuar a ser
esburacadas pelas empresas de água e esgoto, telefonia e TV a cabo,
publicas e privadas e nenhuma lei vai mudar este quadro.
Quando da
remodelação da Av. Vasco da Gama lembrei neste jornal que aquela seria a
oportunidade para se criar uma galeria subterrânea de serviços. Isto
eliminaria valas, buracos, perda de água, roubos de cabos aéreos e
baratearia a manutenção dessas redes, Em algumas avenidas de Barcelona
existem buzones onde se deposita o lixo que é sugado e transportado à
vácuo por galerias. A prefeitura financia esses túneis cobrando pedágio
das concessionárias de serviços. A requalificação do Porto da Barra e da
Baixa dos Sapateiros são outras oportunidades perdidas.
Existem
hoje tecnologias não destrutivas mais avançadas e baratas. Elas
consistem em sondas de até 40 cm de diâmetro acionadas por ar comprimido
que são capazes de avançar até 50 m pelo subsolo e revestir este túnel
com segmentos de tubo de ferro soldados entre si. Por ele são enfiados
cabos elétricos, redes de fibra óptica e tubos de água flexíveis que
podem ser retirados, reparados ou substituídos sem precisar quebrar a
rua ou o passeio. Diâmetros de até 60 podem ser abertos por rotativas
como aquelas usadas para resgatar em poucas semanas 33 mineiros a 700 m
de profundidade no Chile. Por estes tuneis podem passar inclusive dutos
de esgoto e águas pluviais. Redes de gás podem ser incluídas desde que
esses dutos tenham ventilação forçada e chaminés de escape. A cada
esquina e meio de quadra são criadas caixas de passagem de onde partem
ramais de diâmetros inferiores sob os passeios até chegarem a pares de
domicílios.
Precisamos criar um planejamento público, aberto e
competente que encare a cidade em toda sua complexidade e interatividade
e nos liberte da dependência das empreiteiras e concessionárias de
serviços que só vêm o problema setorial e tentam resolvê-lo com meias
solas.
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