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domingo, 27 de abril de 2014
E o “guayacán” voltou a florir...
domingo, 13 de abril de 2014
O culto brasileiro ao belo
Paulo Ormindo de Azevedo
SSA: A Tarde, 13/04/14
A unidade
verdadeiro-bom-belo foi formulada originalmente na Idade Média, mas se
transformou num clássico. No século XIX, Victor Cousin em um livro de
grande sucesso, que tem este titulo, afirmou que em todas as épocas
estas foram as preocupações básicas da filosofia. Coube a Frederich
Nietzsche, em 1886, mostrar o antagonismo destas três ideias. O culto
brasileiro ao belo parece confirmar a observação de Nietzsche. Aqui o
belo é um valor dissociado e até antagônico aos demais itens da tríade.
Exemplo disto é a proliferação de lojas de decoração, academias de
ginástica, spas, salões de beleza, clinicas de cirurgia plástica e
ortodontia, que nada têm a ver com o bom e o verdadeiro.
A
arquitetura colonial brasileira é mais barroca e bela que sua matriz
portuguesa dita chã. Niemeyer dizia que sua obra reproduzia as curvas
graciosas da paisagem carioca e da mulher brasileira. Nenhum
profissional liberal ou butiqueira que se preze dispensa uma decoradora
para dourar seu consultório ou loja com moveis de design não
necessariamente cômodos. Este é um requisito fundamental para o sucesso
profissional ou comercial, o que confirma que os seus clientes são
também cultores do belo. Por isso, não obstante os preços exorbitantes
de móveis, tapetes e objetos de design, as lojas do ramo se reproduzem
como coelhos em cidades grandes, médias e até pequenas. Esta preocupação
estética não se restringe aos espaços de trabalho ou morar, se
estendendo ao próprio corpo, num narcisismo próprio dos brasileiros.
O segundo lugar da bela Marta Rocha no concurso de Miss Universo em
1954 provocou uma comoção no país quase igual à perda da Copa de 1950.
Vinicius de Morais pedia desculpa às feias, mas dizia que beleza era
fundamental.
O Dr. Keneth Cooper, autor do livro Aerobics (1968),
treinador das forças armadas norte-americana e conselheiro da seleção
brasileira na década de 1970, afirmava que em nenhum país seu método de
fazer corpos sarados teve tantos aficionados como no Brasil, a ponto de
seu nome ser sinônimo de jogging.
O Brasil é campeão mundial de
cirurgias plásticas. Os nossos cirurgiões são considerados dos mais
competentes do mundo, perdendo apenas para os colegas tailandeses em
operações transexuais. Algumas mulheres fazem operações plásticas
periódicas para diminuírem ou aumentarem os seis, o glúteo e colotes em
função da moda. Uma brasileira residente nos Estados Unidos é a campeã
mundial de seios siliconados, alguma coisa da ordem de quatro quilos, o
que lhe salvou em um acidente de carro quando o air bag falhou. Modelos e
atrizes se internam em spas durante semanas ou fazem lipoaspirações
para uma simples apresentação ou sessão de fotos para revistas
masculinas. Também os homens já aderiram a esta prática para mostrar o
tórax malhado sem fazer esforço, ou eliminar barrigas hemisféricas,
“pneus” e carecas.
Turistas estrangeiros se espantam com a
quantidade de pessoas, inclusive de baixa renda, que usam aparelhos de
ortodontia nas nossas cidades. Hoje simulacros desses aparelhos,
coloridos para serem mais atrativos, são vendidos em tabuleiros de
camelôs ao lado de sutiãs e ancas infláveis ou acolchoadas. Perto dali
estão as tendas de tatuadores com álbuns de dragões orientais, aves do
paraíso, corações flechados, abecedários artísticas e frases do
“secretario amoroso” para serem tatuados em homens e mulheres
apaixonados ou narcisista que querem atapetar todo corpo com desenhos
coloridos.
O belo nesses casos não corresponde ao verdadeiro.
Pelo contrario, uma mulher ou homem siliconado, ainda quando considerado
belo, está mais para propaganda enganosa que para a autenticidade. Do
mesmo modo, sua beleza não corresponde ao bom, ou saudável. O cantor
Netinho quase morreu por abusar de anabolizantes para aumentar a massa
muscular e se apresentar de peito nu em frente de suas admiradoras e
fãs.
Todo arquiteto sabe que a função da decoração é encobrir um
defeito de construção. Os maquiadores podem dizer o mesmo e Caymmi
sintetizou isto muito bem numa canção quando ele pediu a Marina morena
para não se pintar, “pois você já é bonita como Deus lhe deu”.
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