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Paulo Ormindo de Azevedo SSA: A Tarde, 27/04/1
Era uma vez uma cidade chamada Guayacán dominada por um barão perverso,
sétimo homem mais rico do mundo e dono de 80 % do comercio mundial de
sonhos e pesadelos. Grande parte de seus habitantes eram mulas, que
transportavam sonhos pesados como chumbo. Sua lei era “plata o plomo” -
dinheiro ou chumbo - e com isso ele controlava juízes, legisladores,
governantes e cidadãos. Três candidatos a presidentes de seu país e
milhares de mulas suspeitas e rivais foram mortos por ele. Em 1991 o
número de homicídios por cem mil na cidade era de 381. Dois anos depois a
cidade se revoltou e o matou, mas continuou dominada pelo barão de uma
cidade vizinha. A partir de 2004 esta “Sin City” começou a mudar, quando
o irmão do governador do estado, sequestrado e morto um ano antes,
resolveu assumir a luta e mudar o estado e a cidade. O guayacán, o nosso
ipê amarelo, voltou a colorir os tetos de zinco da grande favela.
Esta não é mais uma fabula cruel com final feliz, é uma historia real.
Guayacán é o símbolo de Medelín, na Colômbia, e o barão era Pablo
Escobar. Em 2007 a taxa de homicídios despencou para 34 e o índice de
alfabetização subiu para 96,65%. Medelín conseguiu isto rompendo a
segregação sócio-espacial com um inovador sistema de metrô, BRT,
teleféricos e escadas rolantes, que chega aos pontos mais isolados da
cidade. Ali foram instaladas bibliotecas-parques, escolas e museus de
primeiro mundo, e não meias-solas, onde se faz a inclusão social.
Há três semanas, pessoas vindas de todos os cantos do mundo vieram
conhecer o milagre de Medelín. O prefeito Aníbal Gaviria(48) e seu
parceiro nesta luta, o governador da província de Antioquia Sergio
Fajardo, se juntaram ao premio Nobel de economia Joseph Stiglitz, ao Dr.
Joan Clós, diretor executivo do Habitat e ao ex-prefeito de Nova York, o
bilionário Michael Blomberg para divulgarem para o mundo o que
aconteceu na cidade, no VII Fórum Urbano Mundial, da ONU-Habitat. Uma
dezena dos maiores profissionais e teóricos do urbanismo foi convidada a
avaliar criticamente a experiência de Medelín. Prefeitos, entre os
quais a nossa vice, empresários, diretores de fundações e ongs, lideres
sociais e tribais e técnicos, como este escriba representando o CAU/BR,
discutiram o futuro das cidades em mesas redondas e diálogos. O tema
central era Equidade Urbana no Desenvolvimento de Cidades para a Vida.
Dentro deste marco foram discutidos os efeitos das mudanças climáticas; o
processo acelerado de urbanização que transformou nossas cidades em
favelões; a crescente segregação sócio-espacial com barreiras físicas e
sociais, a mobilidade urbana e a inclusão social para combate à
violência. A escolha de Medellín não foi por acaso, a cidade
acaba de ganhar o concurso City of the Year, organizado pelo The Wall
Steet Journal, como a cidade mais criativa do mundo. Este milagre se
deve a inclusão social realizada pelas empresas publicas Desarrollo
Urbano e Transporte Masivo del Valle de Aburrá, da mais alta
qualificação e eficiência voltadas para o social. O premio Nobel
Stiglitz sintetizou a experiência: “O que me agrada em Medelín é que se
está focando o conceito de dignidade, ao criar espaços atrativos e fazer
as pessoas se sentirem bem. Não é apenas uma luta pela sobrevivência, é
uma aposta no brilhantismo”. O prefeito Gaviria é um
administrador formado em Harvard. O governador Sergio Fajardo é
professor universitário e ex-diretor do Centro de Ciência e Tecnologia
de Antioquia. É uma pena que nossos secretários de planejamento estadual
e municipal não estivessem presentes para se contaminar com Medelín
como fizeram 20.000 administradores e técnicos de todo o mundo.
Apesar de sermos a 13ª cidade mais violenta do mundo, a experiência de
Medelín nos renova a esperança. Mas para isto temos que apostar na
reconstrução do setor público, no planejamento com foco no social, na
inteligência e criatividade de nossos cidadãos. Não podemos continuar a
licitar projetos apócrifos pelo menor preço. Temos que respeitar a
dignidade do nosso povo.
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