Paulo Ormindo de Azevedo
SSA: A Tarde, de 01/02/15
Fiquei otimista com as declarações do governador que iria focar seu
governo no Porto Sul e no projeto Águas do Sertão, dois pontos cruciais
para o desenvolvimento da Bahia. Estas ações só serão efetivas se forem
tratadas como projetos de estado desenvolvidos por instituições
competentes públicas e não por empreiteiras que oferecem projetos de
ocasião para pegarem obras. Estamos vendo o fracasso da renúncia ao
planejamento público com os apagões de energia e agua ao mesmo tempo de
inundações no Sudeste.
Mas a reforma administrativa que se anuncia
atinge especialmente a área técnica, A liquidação do que restou do
Derba, uma referência da engenharia nacional, com os melhores geólogos,
engenheiros e urbanistas da Bahia é preocupante. O Derba não só foi
responsável pela criação e manutenção da rede de estradas baianas, em
seus 97 anos de vida, como o socorro emergencial de catástrofes
naturais, por meio de suas vinte residências.
Outro órgão técnico
que está sendo extinto é a Superintendência de Construções
Administrativas, Sucab. Há anos foram liquidadas a Superintendência de
Engenharia e Manutenção de Unidades de Saúde, Semus e a Conesc, que
cumpria a mesma função com relação às construções escolares. Edificações
publicas sem manutenção se transformam em bens de consumo duráveis, que
devem ser reconstruídos a cada 15 ou 20 anos com enormes prejuízos para
a educação, a saúde e os cofres públicos.
Na área do planejamento,
a Conder, concebida para desenvolver a RMS, foi a partir de 1998
transformada em órgão apenas executor de projetos de empreiteiras. A
Interurb responsável pela política de desenvolvimento urbano e
articulação municipal no resto do estado foi dissolvida. Os resultados
podem ser vistos no abandono da RMS, na transformação de Salvador em
vila dormitório e cidades do interior sem saneamento nem mobilidade,
lixões a céu aberto e conjuntos habitacionais sem equipamentos.
Aguas do Sertão, poderá transformar o abandonado semiárido baiano - um
terço do Polígono das Secas - numa região produtiva com seu rico
potencial mineral, de oleaginosas e fibras e de turístico espeleológico.
Mas tudo depende da agua e o anunciado canal Juazeiro/S. José do
Jacuipe pode ser uma revolução no tradicionalmente combate à seco com
carros-pipas e tanques de fibra em ano eleitoral.
Infelizmente o
solitário Porto Sul parece não sair do papel com a queda do valor do
minério de ferro. Embora se feche esta porta, outra mais sustentável se
abre, o porto de Salinas da Margarida no Canal de Itaparica, com calado
de 21 m em aguas abrigadas e junto aos estaleiros de São Roque. Esse
complexo industrial-portuário estaria articulado à Relan, ao Cia e ao
Copec pela Envolvente Rodoferroviária da Baia de Todos os Santos. Esse
polo seria o principal fornecedor de insumos e equipamentos para a
exploração do pré-sal e um dos mais importantes hubports do país. Fontes
de financiamento não faltariam.
Não podemos realizar esses projetos
sem engenheiros. Enquanto a Rússia forma 190 mil deles por ano, a Índia
220 mil e a China 650 mil, nós formamos 40 mil e estamos diminuindo sua
participação no governo. Menos engenheiros, mais médicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário